domingo, 10 de julho de 2011

Metodologia tomista no estudo da Psicologia(Parte I)

1) Importância da metodologia segundo São Tomás
Embora o conceito atual de Metodologia como estudo dos métodos adotáveis para obter o conhecimento de uma determinada ciência pudesse não existir na Idade Média, São Tomás já preconizava que se "deve conhecer o método de uma ciência antes de estudá-la" (E.B.T., q. 6, a. 1, ob. à seg. parte, r. 3, apud BRENNAN, 1969b, p. 41). Em consonância com essa afirmação, o psicólogo tomista canadense Pe. Robert E. Brennan (1969b, p. 40-41) assevera que: "A primeira preocupação que deve ter um estudante de Psicologia, aqui como em qualquer outro caso, é conhecer o método da matéria particular que vai estudar". 2) Tipos de conhecimento segundo São Tomás Para compreendermos melhor o enfoque metodológico tomista, convém antes tomar como pressuposto o modo pelo qual o Doutor Angélico classifica os tipos de conhecimento. Alguns conhecimentos se buscam pelo afã de saber: são os especulativos. Outros se adquirem com o fim de atuar: são os práticos. Com base nisso, Brennan (1969b) adota o conceito de Filosofia como ciência do conhecimento especulativo, e o de Ciência como o conhecimento de tipo experimental e prático. 3) Diferenças entre Ciência e Filosofia Quanto aos seus objetos formais (fins), podemos observar que a Ciência se interessa mais pelos acidentes enquanto que a Filosofia pela essência. Podemos dizer também que a Ciência se interessa pela(s) causa(s) que precede(m) imediatamente a qualquer efeito considerado, enquanto que a Filosofia está disposta a descobrir até a última de uma série de causas ou a razão final dequalquer efeito. Ambas têm o mesmo objeto material: o conhecimento do universo em geral. Mas diferem quanto ao objeto formal: a Ciência visa aos seus acidentes, propriedades, a "periferia" do objeto, ou seja, seus aspectos chamados de fenomenológicos por certascorrentes. A Filosofia visa à substância, natureza ou aspectos ontológicos do objeto a ser estudado. Como conseqüência, quanto ao método de estudo (meios), a Filosofia baseia-se mais na simples observação, utilizando os sentidos e o raciocínio, enquanto a Ciência lança mão de instrumentos que lhe permitem ampliar a capacidade de observação, adotando o chamado método experimental. Este possibilita criar condições para desenvolver e aprimorar as observações, de modo a poder repeti-las quando se considerar necessário, e comprovar o resultado de suas predições. 4) Divisão da Psicologia Geral em Filosófica e Científica Existem várias escolas e opiniões quanto às divisões da Psicologia Geral. Conforme Brennan (1969b), entretanto, a que se baseia na escola aristotélicotomista divide-a em
dois grandes grupos: Psicologia Filosófica e Científica. Ambas têm o mesmo objeto material: o homem. Elas o estudam como uma criatura estruturada materialmente, sujeita às mesmas leis de tempo, espaço e movimento que atuam sobre o resto das criaturas materiais. Diferem, entretanto, quanto ao objeto formal (fins) e método de estudo. O da Psicologia Filosófica é estudar o homem (enquanto ser hilemórfico, ou seja, dotado de alma unida ao corpo) em sua natureza ou essência, e as leis que ordenam seu ser. Em tese se poderia estudar também a alma enquanto separada do corpo, mas isto seria mais propriamente objeto de estudo da Metafísica. Por sua vez, o objeto formal da Psicologia Científica é estudar o homem, ser hilemórfico, em seus acidentes, propriedades e leis que regulam a sua conduta, o seu comportamento. Quanto ao método, como regra geral, o da Psicologia Filosófica é o dedutivo, baseando-se nos dados da inteligência, dos sentidos e da introspecção para deduzir suasconclusões. E o da Científica é o método indutivo, apoiandose nas informações provenientes da observação aprimorada pelo instrumental científico, aliados aos dados da experimentação, que induzem às conclusões.
Sem embargo, o cientista também usa o método dedutivo quando trata de idear suas leis gerais, especialmente quando lança mão da observação e da introspecção, e o filósofo usa o indutivo quando parte dos fatos observados, dados científicos ou de raciocínios prévios para chegar às suas conclusões. 5) Conceitos de Psicologia Filosófica e Científica Baseando-nos na definição de Psicologia Geral adotada por Brennan (1969b) podemos dizer que a Psicologia Filosófica é o estudo do homem (enquanto ser dotado de alma e corpo) em sua essência ou substância, e que a Psicologia Científica é o estudo do homem em seu comportamento (atos) e propriedades. Para melhor avaliar a inserção dessa ciência no campo filosófico, vale ter presente que, segundo os Padres Farges e Barbedette (1923), a Psicologia se encaixa na Filosofia dentro do estudo da Metafísica especial, seguindo o da Cosmologia e preparando o daTeodicéia. O Aquinate ensina que um corpo doutrinário está subordinado a outro quando este último é capaz de dar-nos a razão última daquilo de que trata o primeiro (AQUINO, E. B. T., q. 5, a. 1, r. a. obj. 5, apud BRENNAN, 1969b). Portanto, segundo a concepção tomista, a Psicologia Científica está subordinada à Filosófica, uma vez que é a Filosofia que nos dá, em última instância, as razões pelas quais o homem é o que é, e age como age. 6) Conceito de Psicologia Tomista Diante do que foi exposto, e para melhor clareza de conceitos, convém explicitar o que entendemos por Psicologia Tomista, com base em Brennan (1960), antes de analisarmos a metodologia que ela emprega. A obra de São Tomás é vastíssima, abarcando inúmeros temas atinentes à Teologia, àMoral, à Liturgia, à Filosofia, à Política, entre outros. Estando a Psicologia relacionada direta ou indiretamente a quase todos esses temas, ele não poderia deixar de abordá-la. Como o fez? Brennan (1969b) destaca que, curiosamente, nem ele, nem Aristóteles, empregaram o termo "psicologia", mesmo porque essa palavra não existia em suas respectivas épocas. Braghirolli et al. (2005), por exemplo, atribuem sua adoção a Philip Melanchthon (1497-1560), e sua difusão a Christian Von Wolff (1679-1754). Contudo, em diversos trechos das inúmeras obras do Doutor Angélico, o assunto da alma humana e seu funcionamento vem à tona. Baseando-se nas Sagradas Escrituras, em Santo Agostinho, Boécio, Aristóteles e outros autores, e, sobretudo, à luz do Espírito Santo, ele edificou um impressionante corpo doutrinário sobre o tema. Desse modo, embora não seja fácil dar uma definição concisa do que chamamos de Psicologia Tomista, podemos entendê-la como sendo o estudo do homem em seus atos, propriedades e essência, segundo a cosmovisão de São Tomás de Aquino. 7) Princípio e métodos básicos da metodologia Delimitados os campos e conceitos que manusearemos, convém recordar agora alguns elementos básicos da ciência que pretendemos analisar. Segundo Brennan (1969b), uma lei básica da metodologia é partir do fato, aquilo que captamos por meio da experiência imediata, para o princípio que está por trás do fato. Ou seja, partir do mais conhecido e avançar gradualmente para o menos conhecido. Uma vez que consigamos estabelecer um princípio, podemos utilizá-lo como ponto de partida para novas deduções e aprofundamentos. É o processo da análise e síntese. Desse modo, existem dois métodos básicos de estudo: a) método analítico Que progride sucessivamente do particular para o geral visando chegar a uma definição sintética de princípios. b) método sintético Que utiliza o processo inverso, baseando-se nas leis ou princípios descobertos pelo método analítico para deduzir novos dados e novas conclusões.

Um comentário:

  1. Não fica bem para alguém que se diz tomista publicar um texto e ocultar o nome do autor, não acha? Porém sempre há tempo para corrigir.

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